Menopausa e Doença Cardiovascular
A menopausa é um componente inevitável do envelhecimento e abrange a perda da função reprodutiva ovariana, ocorrendo espontaneamente ou secundariamente a outras condições. Ainda não é possível prever com precisão o início da menopausa, especialmente a menopausa precoce, para dar às mulheres melhor controle de sua fertilidade. O declínio na produção de estrogênio ovariano na menopausa pode causar sintomas físicos que podem ser debilitantes, incluindo ondas de calor e suores noturnos, atrofia urogenital, disfunção sexual, alterações de humor, perda óssea e alterações metabólicas que predispõem a doenças cardiovasculares e diabetes.
A experiência individual da transição da menopausa varia amplamente. Fatores influentes importantes incluem a idade em que a menopausa ocorre, saúde e bem-estar pessoal e o ambiente e cultura de cada mulher.

A influência da menopausa nas doenças cardiovasculares é variada e pode variar de uma mulher para a outra devido a sua genética, hábitos de vida e principalmente devido às mudanças hormonais, especialmente a redução dos níveis de estrogênio. Sabe-se que as doenças cardiovasculares, e particularmente as doenças coronárias, têm baixa incidência em mulheres na pré-menopausa. A diminuição dos hormônios leva a um aumento acentuado na incidência. Embora a maioria dos fatores de risco de doenças cardíacas sejam comuns a homens e mulheres, a menopausa é um fator de risco adicional exclusivo para mulheres.
A menopausa pode impactar significativamente a saúde cardiovascular das mulheres. A transição da menopausa está associada a um aumento no risco cardiovascular.
A doença cardiovascular é a principal causa de morte em mulheres, sendo sozinha responsável por quase 50% das mortes de todas as mulheres no mundo todo. E têm um aumento notável no risco dessa doença após a menopausa. A doença cardíaca coronária (infarto e angina) nas mulheres geralmente se desenvolve vários anos depois do que os homens na menopausa.

Nos últimos 20 anos, os estudos ressaltaram a importância da transição da menopausa como um momento de aceleração do risco de doença cardiovascular, enfatizando assim a importância de monitorar a saúde das mulheres na pré-menopausa e menopausa, uma janela crítica para implementar estratégias de intervenção precoce para reduzir o risco dessas doenças. O período mais crítico de monitorização é, em média, 2 a 8 anos antes do período menstrual final.
A depleção de estrogênio após a menopausa predispõe ao aumento do risco de doença cardiovascular, principalmente devido à doença cardíaca isquêmica. Isso é mais evidente em casos com menopausa prematura. A base fisiopatológica para esse processo aterosclerótico é o acúmulo de vários fatores de risco, como obesidade abdominal, dislipidemia aterogênica, resistência à insulina e hipertensão arterial.
A prevalência da síndrome metabólica aumenta com a menopausa e pode explicar parcialmente a aceleração aparente da doença cardiovascular após a menopausa. A transição da pré para a pós-menopausa está associada ao aumento da gordura corporal central (intra-abdominal), à um aumento dos níveis de lipoproteína de baixa densidade (LDL) e triglicerídeos, à redução da lipoproteína de alta densidade (HDL), ao aumento dos níveis de glicose e insulina.
Os sintomas vasomotores, como ondas de calor, estão associados ao aumento da pressão arterial e à disfunção autonômica, o que pode aumentar ainda mais o risco cardiovascular.

O envelhecimento é um importante fator de risco para o desenvolvimento de insuficiência cardíaca. Durante a menopausa, a depleção de estrogênio reduz a cardioproteção. A diminuição dos hormônios, principalmente do estrogênio, pode alterar várias vias de sinalização e sistemas de órgãos estão intimamente envolvidos no desenvolvimento da insuficiência cardíaca, incluindo desregulação do sistema renina-angiotensina, aumento de processo inflamatório crônico e alteração no sistema nervoso simpático. Ou seja, a evolução da menopausa tende a causar ou piorar a insuficiência cardíaca nas mulheres na menopausa.
Durante a menopausa ocorrem várias alterações metabólicas como aumento da gordura abdominal, aumento do colesterol, surgimento de placas de ateroma que tendem a causar alterações adversas cardiovasculares.
A American Heart Association destaca a importância de monitorar a saúde cardiovascular das mulheres durante a transição da menopausa, pois este é um período crítico para a implementação de estratégias de prevenção precoce de doença cardiovascular.
Os grupos de risco para problemas cardiovasculares durante a menopausa são principalmente mulheres com insuficiência ovariana antes dos 40 anos, com menopausa precoce antes dos 45 anos, ou com síndrome metabólica, ou com hipertensão arterial ou com diabetes.
A exposição ao estrogênio durante os anos reprodutivos fornece às mulheres proteção contra doenças cardiovasculares, que se perdem cerca de 10 anos após o início da menopausa. Em particular, mulheres com
sintomas vasomotores durante a menopausa parecem ter um perfil cardiometabólico desfavorável.
O gerenciamento precoce dos fatores de risco tradicionais de doenças cardiovasculares (ou seja, hipertensão, obesidade, diabetes, dislipidemia e tabagismo) é essencial.
A menopausa precoce antes dos 45 anos e a insuficiência ovariana prematura antes dos 40 anos estão associadas a um aumento de 1,5 a 2 vezes mais de doenças cardiovasculares.
A terapia hormonal da menopausa exerce um efeito favorável sobre os fatores de risco e é recomendada em mulheres com menopausa precoce ou insuficiência ovariana antes dos 40 anos. É claro que deve-se avaliar os riscos da terapia de reposição hormonal principalmente em relação à trombose, embolia pulmonar e ao câncer de mama, não se devendo realizar sem rigoroso acompanhamento médico.
Para monitorar a saúde cardiovascular durante a menopausa, especialmente em mulheres com fatores de risco aumentado, como menopausa precoce, síndrome metabólica, sintomas vasomotores severos deve-se realizar analises sanguíneas periódicas, avaliando perfil lipídico em jejum (colesterol total, LDL, HDL e triglicerídeos), glicemia de jejum, hemoglobina glicada, função renal e hepática.
As opções de tratamento variam de avaliação e intervenção do estilo de vida até farmacoterapia hormonal e não hormonal, cada uma das quais tem benefícios e riscos específicos. As decisões sobre terapia para mulheres na perimenopausa e na pós-menopausa dependem da sintomatologia, estado de saúde, riscos de saúde imediatos e de longo prazo, expectativas de vida pessoal e disponibilidade e custo das terapias. A tomada de decisão deve ser individualizada e compartilhada com cada paciente na menopausa.
A terapia hormonal da menopausa (THM) exerce muitos efeitos benéficos no perfil lipídico e na homeostase da glicose, bem como efeitos arteriais diretos, e pode reduzir o risco de DCV se iniciada prontamente (ou seja, <60 anos ou dentro de dez anos do período menstrual final). É claro que se deve avaliar os riscos da terapia de reposição hormonal, principalmente em relação à trombose, à embolia pulmonar e ao câncer de mama, não se devendo realizar sem rigoroso acompanhamento médico.
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