O Sono e a Menopausa - Parte 1
A transição da perimenopausa e da menopausa está associada a profundas mudanças reprodutivas e hormonais. Essas mudanças foram bem registradas e combinadas com sintomas concomitantes. Os sintomas da menopausa são altamente prevalentes; eles são suficientemente incômodos para levar quase 90% das mulheres a procurar seu médico para obter conselhos sobre como lidar. Um sintoma menosprezado e às vezes não relacionado como queixa da menopausa é a alteração do sono.
Uma mudança no padrão do sono é experimentado pela maioria das mulheres e é moderadamente a gravemente problemático para cerca de 1/3 das mulheres. As alterações do sono são tão importantes que discutiremos durante 3 semanas em 3 partes.
Enquanto a maioria das mulheres terá uma experiência de sono ruim limitada a apenas um ou dois anos, outras os experimentarão por uma década ou mais, e uma pequena proporção das mulheres nunca ficará livre deles. O sono ruim se torna mais comum em mulheres na perimenopausa, não apenas em associação com a transição da menopausa, mas também em relação ao envelhecimento.
A prevalência de alteração na qualidade do sono aumentou na fase mais tardia da menopausa. As baixas de hormônios, principalmente de estrogênios, na transição tardia da menopausa estão associadas à alterações do sono em comparação com o estado pré-menopausa.

Acordar durante a noite (despertar noturno) e insônia são fatores significativos que contribuem para a dificuldade de concentração, esquecimentos e diminuição da memória verbal e episódica.
Os principais fatores que causam insônia durante a menopausa são multifatoriais e incluem:
1. Alterações hormonais: A diminuição dos níveis de estradiol e o aumento dos níveis de hormônio folículo-estimulante (FSH) estão fortemente associados a despertares noturnos e interrupções no sono.
2. Sintomas vasomotores: Fogachos e suores noturnos são comuns durante a menopausa e frequentemente interrompem o sono, contribuindo para a insônia.
3. Distúrbios de humor: Depressão e ansiedade são mais prevalentes durante a menopausa e estão associadas a uma maior incidência de insônia.
4. Distúrbios do sono: Condições como apneia obstrutiva do sono e síndrome das pernas inquietas podem se manifestar ou piorar durante a menopausa, contribuindo para a insônia.
5. Mudanças circadianas: A transição menopausal também está associada a uma redução na amplitude da variação circadiana da melatonina, o que pode afetar a qualidade do sono.
6. Fatores psicossociais e de saúde: Estresse, dor crônica, obesidade e outras condições médicas também podem contribuir para a insônia durante a menopausa.

Esses fatores frequentemente interagem, criando um ciclo vicioso que perpetua a insônia. O tabagismo está associado a uma maior frequência de insônia e distúrbios do sono durante a menopausa. A abordagem terapêutica deve ser individualizada, considerando tanto intervenções farmacológicas quanto não farmacológicas, como a terapia cognitivo-comportamental para insônia e a terapia hormonal, quando apropriado.
Portanto, as mudanças no sono durante a menopausa são multifatoriais, envolvendo alterações hormonais, sintomas vasomotores e mudanças circadianas, e requerem uma abordagem individualizada para o manejo eficaz.
A terapia cognitivo-comportamental e a hipnose clínica são eficazes para redução de curto prazo dos distúrbios do sono associados. Outros tratamentos não farmacológicos, como suplementos fitoterápicos ou botânicos, exercícios e acupuntura devem ser avaliados, porém ainda não apresentam dados que comprovem sua eficácia completa.
A terapia hormonal pode melhorar a qualidade do sono, especialmente na presença de sintomas vasomotores perturbadores. Porém, só deve ser realizada após criteriosa avaliação médica sobre riscos e benefícios.

Os grupos de mulheres que mais se beneficiam dos tratamentos não hormonais para a fragmentação do sono durante a menopausa incluem:
1. Mulheres com contraindicações para terapia hormonal: Mulheres que não podem usar TH devido a riscos de saúde, como histórico de câncer de mama, tromboembolismo venoso ou doenças cardiovasculares, se beneficiam significativamente de tratamentos não hormonais.
2. Mulheres com sintomas vasomotores: A terapia cognitivo-comportamental para insônia e intervenções comportamentais, como exercícios físicos e técnicas de mindfulness, são eficazes na melhoria da qualidade do sono e na redução dos sintomas vasomotores, como fogachos.
3. Mulheres com preferências pessoais contra o uso de hormônios: Algumas mulheres preferem evitar a TH devido a preocupações com efeitos colaterais ou preferências pessoais. Para essas mulheres, intervenções comportamentais, como terapias comportamentais e de mindfulness, exercícios físicos e técnicas de relaxamento, são alternativas eficazes.
4. Mulheres com distúrbios de humor concomitantes: A terapia cognitiva comportamental é particularmente benéfica para mulheres que também sofrem de depressão ou ansiedade, pois pode melhorar tanto a qualidade do sono quanto os sintomas de humor.
5. Mulheres mais velhas: A melatonina de liberação prolongada é recomendada para mulheres com 55 anos ou mais devido à sua boa tolerabilidade e eficácia na melhoria dos parâmetros de sono e vigília.
Esses tratamentos não hormonais são eficazes e seguros, proporcionando uma melhoria significativa na qualidade do sono e na função cognitiva, além de serem adequados para mulheres com diversas necessidades e preferências.
A eficácia dos tratamentos não hormonais para a fragmentação do sono em mulheres na menopausa pode variar entre diferentes grupos etários, com algumas intervenções mostrando maior benefício em grupos específicos.
1. Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia é eficaz em todas as faixas etárias de mulheres na menopausa, incluindo perimenopausa e pós-menopausa, melhorando significativamente a qualidade do sono e reduzindo a insônia, independentemente da idade.
2. Exercício Físico: A eficácia do exercício físico, como aeróbico e yoga, é observada em mulheres de todas as idades na menopausa. No entanto, mulheres mais jovens na perimenopausa podem ter uma resposta mais robusta devido a uma maior capacidade física e menor prevalência de comorbidades.
3. Melatonina: A melatonina de liberação prolongada é particularmente eficaz em mulheres com 55 anos ou mais, devido à sua boa tolerabilidade e eficácia na melhoria dos parâmetros de sono e vigília. Este grupo etário pode se beneficiar mais devido à diminuição natural da produção de melatonina com a idade.
4. Mindfulness e Relaxamento: Técnicas de mindfulness e relaxamento, como meditação e yoga, são eficazes em todas as faixas etárias, mas podem ser especialmente benéficas para mulheres mais jovens na perimenopausa, que podem estar mais abertas a intervenções comportamentais.
5. Intervenções Nutricionais: O uso de extratos de pólen e isoflavonas de soja, mostraram melhorar a qualidade do sono em mulheres na menopausa. Mulheres mais jovens na perimenopausa podem responder melhor devido a um metabolismo mais ativo e menor prevalência de comorbidades.
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